quinta-feira, 13 de maio de 2010

Não se arranja uma comissãozinha de inquérito na Assembleia da República?


Editorial do Diário de Notícias da Madeira


Razões de uma demissão

Levo hoje ao conhecimento dos leitores a minha demissão do cargo de Director do Diário de Notícias.

Uma decisão pessoal emergente do regime de excepção criado à Comunicação Social madeirense.

Como é do domínio público, a imprensa é um dos ramos de actividade que mais têm sentido a recessão económico-financeira mundial. No caso, acresce o sufoco e o cerco ao nosso jornal congeminado e perpetrado pelo presidente do governo da Madeira, dr. Alberto João Jardim, que está a aproveitar as dificuldades deste período negro, com reflexos fatais no mercado insular, para concretizar o seu antigo projecto de fechar o DIÁRIO. Depois de muitos anos a atribuir ao DN ofensas e ataques pretensamente gerados contra si, o dr. Jardim passou à estratégia de desvirtuar o mercado regional dos media, passando expressamente a beneficiar em 1992 um jornal concorrente - o Jornal da Madeira - com uma verba anual astronómica. Em 2009, o total dos apoios recebidos por aquele órgão ascendia aos 42 milhões de euros. Trata-se de uma injecção de 11 mil euros diários no JM, com discriminação do resto da imprensa.

Paralelamente, o dr. Jardim utilizava os actos públicos para intimidar os empresários que anunciavam no DN. Reduziu também praticamente a zeros a publicidade oficial no nosso diário, entregando-a na quase totalidade ao JM. E as instituições públicas dependentes do governo regional receberam ordens para cortar as centenas de assinaturas do DN.

Não satisfeito com os atropelos à lei para levar este diário à falência, o dr. Jardim, em Janeiro de 2008, passou o JM a gratuito, aumentando a sua tiragem de 5 mil para 15 mil exemplares. Gratuito apesar de em capa apresentar o preço de 0,10 €. E ainda com uma máquina de distribuição a agravar os já delirantes custos cobertos integralmente pelos impostos do povo. Ou seja, um produto gratuito com características de generalista a ser distribuído de graça ao lado de outro jornal com preço de capa de 0,70€, porque sobrevive do seu trabalho.

É o mesmo que ao lado de um restaurante da praça abrir um outro com refeições gratuitas e com a mesma substância. Ainda por cima, obrigando os funcionários públicos a servir-se no gratuito. Naturalmente que o primeiro restaurante, pago, teria os dias contados.

Os efeitos desta escalada perversa preparada sem escrúpulos pelo dr. Jardim chegaram ao DN, que não recebe quaisquer subsídios. O ano passado, vivemos nesta Casa o drama do despedimento colectivo. Um doloroso processo que tirou o trabalho a profissionais competentes e empenhados. Sem o menor sentimento perante madeirenses com responsabilidades familiares, o dr. Jardim tem continuado a incentivar uma guerra generalizada ao DN, com mentiras descaradas a fazer de argumentação aos seus sinistros desígnios. Hoje, com nova vaga de despedimentos à vista, conforme já assumiu o Conselho de Gerência do DN, o dr. Jardim insinua e faz constar que a situação crítica está criada por culpa do Director, deixando perceber que, resolvido esse 'problema', tudo poderia voltar ao 'normal'.

Trata-se de uma manobra vil e crapulosa para tentar baralhar causas e efeitos. O dr. Jardim, habituado a estracinhar adversários e até companheiros seus na praça pública, e a fazer bullying com a imprensa (ontem com uns, hoje com outros, amanhã com outros ainda), percebeu que nem todos os alvos estão talhados para apanhar e calar. Daí tentar fazer crer que as reacções aos seus insultos, enxovalhos e linchamentos é que começaram primeiro.

Apesar de tão descarada ser a estratégia, o problema persiste. Há despedimentos à vista. E há rumores sobre putativos culpados. Neste contexto, fui levado a medir atentamente a situação. Concluí que a solução menos má é aquela que acabo de transmitir ao Conselho de Gerência do DN. Em tentativas anteriores, pelos mesmos motivos, o CG rejeitou liminarmente o meu pedido de demissão, até por não aceitar que pressões do exterior influenciassem a vida interna do DN. Posição louvável da empresa. Mas agora, perante as mais recentes investidas contra o DN, decidi tomar unilateralmente a decisão de abandonar o cargo, informando o CG da sua irreversibilidade. Faço-o num momento em que o nosso jornal, embora sem correspondência cabal no suporte financeiro, circula com prestígio e energia, merecendo o apoio e o incentivo dos leitores e dos madeirenses em geral. Agradeço às distintas personalidades que nos têm dado a honra de dar corpo à nossa página de 'Opinião', bem como à estrutura de editores, jornalistas e restantes colaboradores que nestes quase cinco anos comigo trabalharam com competência, qualidade e uma lealdade sem mácula. Dirijo aos assinantes, anunciantes e leitores em geral uma palavra de apreço e de coragem, porque todos percebemos que hoje é perigoso ler as nossas edições. Veja-se o ponto a que chegou a estranha democracia na Madeira!

Recordemos que o Presidente da República, a Assembleia da República, a ERC, os tribunais, os partidos políticos, o governo de Lisboa - todos têm conhecimento dos criminosos atentados contra a liberdade de imprensa na Região. Infelizmente, o que esses dignitários e instituições fazem é vir cá elogiar a "superior qualidade da democracia na Madeira" e a "obra" realizada pelo "democrata" dr. Jardim.

Da minha parte, quero deixar claro que me demito da Direcção do DN mas não me demito da minha carreira, que é a de jornalista. Muito menos estou em fuga de qualquer tipo de confronto. Pelo contrário, terei mais disponibilidade para escrever, agora com o desprendimento de o meu trabalho profissional e as minhas acções pessoais não vincularem a instituição Diário de Notícias. Terei até mais tempo para combater nestas páginas centenárias as cirurgias e os branqueamentos que por vezes vemos por aí fazerem da nossa História. Fá-lo-ei cá dentro do Diário de Notícias, jornal onde comecei a cometer as primeiras gralhas já lá vão 35 anos.

A vida continua hoje.

Luís Calisto

1 comentário:

José Leite disse...

A Madeira precisa de um tsunami a sério para varrer com o soba da Vigia.

Aquilo é o instinto persecutório elevado ao máximo expoente. De vitimização em vitimização (já mete nojo) passa a vida a silenciar os opositores para berrar ele sozinho.

Dizem mque os cucos quando são pequenos fazem a mesma coisa: estão no ninho de terceiros e começam por deitar fora os legítimos proprietários para ficarem só eles a comer o que trazem os pais adoptivos...

Criaturas repulsivas, egoístas, patológicas...

 
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