terça-feira, 14 de outubro de 2008

EDITORIAL do mais recente número do GARAJAU

Baudelaire dizia não compreender como é que era possível a um homem de honra pegar num jornal sem sentir um arrepio de desgosto. E contra mim falo ao citá-lo, por também não passar de um mero escriba pós-moderno, que o que escreve hoje serve para embrulhar o peixe de amanhã, se tanto. Mas, ao menos, tenho consciência da minha efemeridade e procuro ser honesto no que escrevo, não pactuando com esquemas que violem o Código Deontológico da profissão.

O panorama da Comunicação Social da Madeira vai de mal a pior com os jornalistas cada vez mais arregimentados e estupidificados e com as chefias dos jornais, rádios e tv, a serem cada vez mais comissários políticos ao serviço do Regime e dos seus múltiplos interesses, esquecendo-se do que é a verdadeira natureza da sua missão. Informar com verdade.

O jornal que foi outrora um espaço de alguma liberdade, isenção e equidistância em relação ao poder e aos lobies e que por mais do que uma vez ousou enfrentá-los é hoje uma sombra do que foi e delapidou estultamente a herança de Richard Blandy e agora serve sobretudo para que os negócios do Grupo Blandy sigam de vento em popa.
Sejamos assertivos. Mais do que nunca, o Diário é, hoje, o melhor aliado de Alberto João Jardim e do PSD-M. Aliás, tão amigos que eles são, que podemos dizer que o Presidente do Governo Regional é “editorialista” do Jornal da Madeira e “director de marketing” do Diário pois, ao elegê-lo como o seu grande adversário, está a desvalorizar a oposição, fazendo de conta que não existe, ao mesmo tempo que uma prolonga a farsa de que o matutino é independente, quando não o é.
Hoje em dia a confiança que os partidos da oposição têm no Diário é quase nula. Antes ainda encontravam algum espaço e receptividade para manifestar opiniões contrárias ao PSD-M e viam publicadas algumas notícias que colocavam em causa o regime e as suas negociatas e compadrios. E é por isso que o independente leva sempre aspas agora, mesmo na oralidade.

Convém não esquecer que nos últimos anos o Diário teve a dirigi-lo um autêntico três em um: administrador/director/empresário, que enriqueceu a vender computadores ao Governo Regional e software à Câmara Municipal do Funchal.
E como se isto não bastasse, todos os cargos de chefia estiveram e estão entregues a politicamente correctos e submissos jornalistas pró-regime.

Estamos, pois, perante um jornal que é um autêntico agente duplo, à boa moda da Guerra Fria, cujo papel ambíguo – basta estar atento às edições e à escolha de notícias, destaques, destacáveis, etc., - muito tem contribuído para a manutenção e fulgor deste regime.

E agora com a mais do que anunciada liquidação do Jornal da Madeira – que é muito mais honesto do que o Diário por se saber claramente quem o paga e o que ali se escreve – mais ainda situacionista vai ser e pior jornalismo vai fazer.

Sem comentários:

 
Free counter and web stats
Web Pages referring to this page
Link to this page and get a link back!