sexta-feira, 10 de outubro de 2008

TELEFÉRICO DO RABAÇAL (VII)

Duas cartas de leitores no Diário de Notícias da Madeira publicadas em dias seguidos:

Manuel N
Teleférico no Rabaçal
Data: 08-10-2008

Toda a área de ocorrência de Laurissilva integra o Parque Natural da Madeira, conferindo-lhe assim um forte estatuto de protecção. Em 1992 foi incorporada na rede de Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa e constitui Zona de Protecção Especial-ZPE, no âmbito da Directiva Aves.

A Laurissilva da Madeira ascendeu à qualidade de Património Mundial Natural da UNESCO em Dezembro de 1999. (http://www.ippar.pt/patrimonio/mundial/madeira.html) A pretensão de construir um teleférico no Rabaçal é uma aberração com contornos criminosos. Este local, a par de uns poucos outros, é um santuário da nossa Natureza. Como tal deveria estar, legalmente, ao abrigo de pretensões como esta, mascaradas de investimento.

O nosso receio ainda é maior por vir duma daquelas entidades ditas de desenvolvimento. Porque, evoca-nos a falta de respeito com que os seus dirigentes têm tratado as suas obras e aquisições. Falta de respeito que dá indícios que se servem dos seus lugares ao invés de servirem. Senão vejamos: - Como é possível investir em instalações e equipamentos para ficarem parados a se degradarem? Como a marina de ondas espectaculares e pedregulhos a céu aberto que escaparam, ambos, aos estudos prévios que deveriam existir ou melhor, pois poupava-se imenso dinheiro, bastava conversar um pouco com as pessoas mais velhas da zona. Assim, também ter-se-iam evitado os portos verdadeiros caça ondas da nossa costa. E outros equipamentos a figurarem na inauguração e depois a ficarem sem utilidade ou utilização. Como o guincho para barcos nos Reis Magos e o teleférico do Garajau a caminhar para tal.

- Quantos metros quadrados de construção sem qualquer utilidade ou utilização, salas, fóruns, centros disto e daquilo. Como o dito 'museu da baleia', que enquanto procuram sem sucesso conteúdos para preencher o seu espaço exagerado, deixam apodrecer a algumas dezenas de metros o que foi a última baleeira da região, quase ao lado da progressiva degradação do carreireiro, reconstruído, símbolo das ligações no nosso arquipélago. Como construções para bares, barzinhos ou barões, de todas as formas e feitios, por vezes aberrantes como os bankers de S. Vicente, como se estes negócios não fossem praticamente os únicos que a generalidade do madeirense sabe ou pensa que sabe gerir. - Quantas plantas, em especial palmeiras, por quem, sabe-se lá porquê, têm especial predilecção, ou talvez até se desconfie, são postas à terra e abandonadas após a inauguração, algumas vezes de variedades inconciliáveis com as condições climáticas do local, como no Seixal, por exemplo. - Quantos equipamentos desnecessários como a espantosa densidade de candeeiros por m2 nas áreas ajardinadas, isto é abandonadas e cheias de erva, junto a edifício construído no porto de Santa Cruz, o de restaurante que abre e fecha, agora com possível discoteca. Claro para o desenvolvimento da região! Mas para quê um teleférico no Rabaçal? Para a valorização de "uma área de beleza única" e para a criação de um acesso cómodo e rápido para os visitantes que ali se dirigem? 5 milhões de euros? Ainda não viram, ou estes indivíduos vêm mas isso não lhes serve, que o verdadeiro monumento que a Madeira tem é a sua Natureza e a melhor obra que podem deixar para o futuro, gravando o seu nome na história do nosso Arquipélago, é contribuírem para a sua preservação. A classificação 'desfavorável-má' resultante do Relatório Nacional de Implantação da Directiva Habitats na União Europeia (2001-2006) espelha o que se está a fazer. A classificação como património mundial foi encarada, meramente, uma vitória política e usada como instrumento de estratégia de marketing. Não se investiu na sua limpeza para prevenir incêndios e infestantes. Não se impediu como se devia a intervenção humana. Foi rasgada pelo betão! Infelizmente estes indivíduos, que por razões várias ocupam lugares, temporários, de decisão, não gostam de plantar. Preferem antes colher.

Se em lugar de um destes fóruns por aí inutilmente plantados, por exemplo o de Machico, ou o elefante branco (ou baleia cinzenta) do Caniçal, poder-se-ia cultivar um jardim ou parque pensado para as gerações vindouras. Valorizando a zona, em ambos os casos incomparáveis baías de águas calmas e, em especial no segundo, límpidas! Comparemos os seus custos e os seus benefícios. Perdas só para os que estavam à espera das respectivas comissões, mas todos ficávamos mais ricos, menos endividados e com um bem que a Natureza encarregaria de desenvolver. No futuro, lição e objecto de deslumbramento e bem-estar.

A justificação de que foi mão-de-obra ocupada é banal e falsa. Despender meios para fins de pouca utilidade, ocupando e danificando espaços em zonas sensíveis, não será política regional correcta. Muitas vezes obras executadas por pessoas que não sendo da região naturalmente levarão os frutos do seu trabalho para as suas terras. Invista-se em educação, formação, investigação, energias alternativas e outras áreas determinantes. Um bom viveiro de plantas autóctones para servir as nossas serras e áreas públicas e privadas teria um retorno interessante para a região. Mas isso são outros compadrios e sociedades.

Tiremos a lição do que agora vem ao de cima, na crise económica e social que marcará o nosso tempo. Um falso desenvolvimento para sustentar os vícios e a opulência dos decisores do que deveriam ser instrumentos financeiros essenciais ao desenvolvimento económico das sociedades. Esperemos é que os 'furacões' anunciados não passem sempre ao largo destas situações. Se esta ideia, do malfadado teleférico, for para a frente, não nos admiremos de nos deparar nas anunciadas 'estações', com bares, salas de conferência, venda de souvenirs, mais espaços fechados à procura de conteúdos … e rodeados de palmeiras. No Rabaçal! Que apenas durariam, palmeiras e ocupação dos espaços, o tempo suficiente da inauguração! A permissão de execução de tal construção no seio do nosso Património Natural, pertença das actuais gerações mas sobretudo das futuras, é de facto uma decisão de grande importância pelo que se impõe uma tomada de posição pública do novo director do Parque Natural.



Teresa Pereira
Teleférico do Rabaçal
Data: 09-10-2008

Concordo na íntegra com o Senhor Manuel N., só discordo num ponto: o Senhor foi demasiado brando. Precisamos de dizer a estes governantes de secretária, que não precisam de "roubar" mais aos contribuintes construindo coisas novas, como se estivessem no centro do mundo a ter ideias novas. 'STOP BUILDING', como pediram os turistas, esses sim, que AINDA visitam a nossa terra, e têm uma palavra importante que devia ser ouvida. Gastam milhões na promoção turística, para quê? Para meter mais cimento? Quem é que desta vez vai meter ao bolso a percentagem da construção do teleférico do rabaçal? PAREM, POR FAVOR… Construir para terem votos já não pega. Que tal pensarem em RECUPERAR o nosso património que ainda resta, porque em 30 anos de autonomia nem tudo foi mau.

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