quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

RABAÇAL - Quase 6 milhões de euros para destruir um bem valioso

Artigo de opinião de Hélder Spínola, com a devida vénia ao Diário de Notícias da Madeira:



Rabaçal: de levada ou teleférico?
Não se entende o investimento de quase 6 milhÕes de euros para destruir um bem valioso
Data: 18-12-2008

Ao mesmo tempo que procura promover a Madeira como destino turístico com base nas suas características culturais e naturais mais genuínas, como o bordado, o vinho, a paisagem e os valores naturais, o Governo Regional acaba de viabilizar pelas mãos do próprio Secretário Regional do Ambiente a construção de um teleférico num dos locais mais naturais e autênticos da nossa exígua ilha. Por incrível que pareça, o Sr. Secretário do Ambiente acaba de assinar uma Declaração de Impacte Ambiental Favorável para a construção de um teleférico no Rabaçal ao longo de 1380 metros de uma das mais soberbas paisagens de Laurissilva classificada pela UNESCO como Património Mundial Natural. A Laurissilva da Madeira é Património Mundial Natural, o único com esta classificação em Portugal, pelo seu valor universal excepcional para a ciência, conservação e beleza natural. A Laurissilva da Madeira é a maior e mais bem conservada mancha deste tipo de floresta no mundo, existindo também nos Açores e nas Canárias, mas em pior estado de conservação. Esta é uma floresta relíquia que remonta ao Terciário (período que se iniciou há 65 milhões de anos atrás e terminou há 1,8 milhões de anos) e que ocupou no passado vastas extensões do Sul do continente Europeu e bacia do Mediterrâneo, tendo ficado reduzida às ilhas da Macaronésia devido às glaciações. Com o povoamento destas ilhas ao longo dos últimos cinco séculos a maior parte desta floresta foi destruída para a criação de pastos, campos agrícolas e aglomerados urbanos. Na Madeira, devido ao seu relevo acentuado, tivemos a felicidade de manter até à actualidade uma parte dessa floresta no seu estado original.

É justamente no vale da Ribeira da Janela, em particular na zona do Rabaçal, onde podemos encontrar a Laurissilva no seu melhor, desfrutar de paisagens naturais soberbas e contactar com a natureza na sua forma mais genuína, percorrendo as nossas tradicionais levadas longe do stress e artificialismo dos espaços urbanos. Este é um local classificado no âmbito do Plano de Ordenamento do Território da Região Autónoma da Madeira (POTRAM) como Espaço Natural de Uso Interdito onde apenas se permitem actividades de conservação da natureza e, a título excepcional, a selecção de locais de observação no âmbito de usos de lazer e recreio. O Rabaçal e a sua Laurissilva estão integrados na Rede Natura 2000, são Reserva Biogenética do Conselho da Europa e, no âmbito do Parque Natural da Madeira, estão classificados como zona de repouso e silêncio, para além de serem Reserva Natural Parcial.

Como é possível aceitar que numa paisagem destas, com um património natural autêntico reconhecido internacionalmente ao mais alto nível, se atravessem cabos, se instalem torres e estações para fazer circular um frenesim de cabinas por cima das copas das árvores, atravessando vales e estragando a pureza que atrai tantos visitantes nacionais e estrangeiros nos percursos que as levadas possibilitam? Como é possível que o Sr. Secretário do Ambiente não tenha prestado a mínima atenção ao parecer negativo do Parque Natural da Madeira que rejeita liminarmente a hipótese de um teleférico no Rabaçal e não tenha percebido o parecer da Direcção Regional das Florestas que desmonta ponto por ponto toda a justificação desta obra? Mesmo que não estivéssemos em tempos de crise, não se entende este investimento de quase 6 milhões de euros para destruir um dos bens mais valiosos que a Madeira possui e trocar os percursos pelas levadas por passeios em teleféricos.

1 comentário:

Scherzan disse...

Só há uma justificação para isto: Interesse por detrás. è que alguém vai ficar a lucrar com isto. Alguém hipócrita, que todos nós conhecemos. Figura assídua de um circo permanente na região. Mas este é sonso. Não se manifesta muito porque não quer chamar à atenção, já que há outros palhaços que fazem as principais manobras de diversão.
A vontade do povo só interessa quando é para ganhar eleições, quando há algo contra, é com interesse público. Felizmente hei de estar cá para ver esses patifes mortos e ver esses atentados desaparecerem. Não será para já, mas este betão vai desapareecer em breve. Não sabem eles o que vem aí. O segredo mais bem guardado. E não é bluff...

 
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