domingo, 9 de novembro de 2008

E AGORA A MADEIRA - JOÃO MARCELINO

Com a devida vénia ao Diário de Notícias

1 Pela primeira vez alguém conseguiu enervar a maioria do PSD de Alberto João Jardim na Madeira, e esse alguém não é do PS, do PP, do PCP ou sequer do Bloco. O autor da façanha pertence ao PND, um partido que a nível nacional não tem expressão e acaba de perder o líder, Manuel Monteiro, que se demitiu.

Para além do mais, este incómodo deputado, de seu nome José Manuel Coelho, não se afirmou pelas ideias ou pelos projectos - antes deve o seu lugar na Assembleia Regional a um actor que representou um personagem chamado "Manuel da Bexiga" na última campanha eleitoral da região, divertindo, satirizando, encenando quadros burlescos, à boa maneira do tradicional teatro de revista "à portuguesa". E essa original campanha mostrou ser capaz de mobilizar para o voto com certeza muitas pessoas que não acreditam nos políticos, que normalmente não votam e que quando resolvem fazê-lo têm a expectativa de introduzir na luta política elementos de conflito e perturbação. Houve ali sinais disso, e por variadas razões.

Sem grande preparação política, o deputado gerado por este processo tem-se distinguido pela combatividade e, segundo é voz corrente na região, já fez, com os seus protestos imaginativos e provocadores, mais pelos direitos da oposição na Madeira que as células dos partidos nacionais na região nos últimos 30 anos.

O segredo, constata-se, afinal era simples: seguir o exemplo de Alberto João Jardim! E, como ele, não respeitar regras, nem sequer as da boa educação. Não ter limites, nem pactuar com convenções. Única e exclusivamente provocar, provocar, provocar.

2 José Manuel Coelho tem-se excedido numa luta justa contra a limitação dos tempos de intervenção que a maioria do PSD impôs à oposição na Madeira. O relógio até teve graça, mas a exibição da bandeira nazi é um acto gratuito, ofensivo, que naquele local deveria ser considerado crime.

O insólito é que sejam as tropas de Alberto João Jardim a combaterem ao lado dos bons costumes, que sejam os homens do partido que transformou a actividade política local num Carnaval com liturgias marcadas a defender a ordem e a noção de legalidade.

Sejamos objectivos: isto só podia acontecer na Madeira de Jardim. Não era possível nem nos Açores nem no Parlamento da República. E acontece na Madeira porque está ali instalada uma cultura de esmagamento das minorias, uma prática política que está ao nível das rábulas do "Manuel da Bexiga".

A brutal resposta do PSD, ordenando o "estado de sítio", é de todo desadequada. Naquela casa em que pretendem agora defender a virtude, já as tropas de Jardim atacaram de forma violenta, ofensiva e pessoal outros eleitos do povo da região.

O silêncio de Alberto João Jardim é o mais estranho de todo este episódio, que nunca poderia ter acontecido sem o seu alto patrocínio. Pela primeira vez sentiu-se fora de pé, cometeu um erro, ou esta estratégia tem a ver com a dotação orçamental à região no âmbito do OE, que, como tem vindo a ser norma nos governos de José Sócrates, privilegia os Açores em detrimento da Madeira? (O que, aliás, se percebe em função da evolução do PIB na região, que é alavancado pela zona franca e classifica a Madeira como a região mais rica do País a seguir a Lisboa). Alberto João é refém da sua obra, tanto quanto alvo da determinação política de Sócrates, o único político que até hoje o enfrentou.

João Marcelino

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