Teleférico "viola POTRAM"
O projecto promove "um mau turismo", segundo a 'Quercus', e deve ser rejeitado
Data: 05-11-2008
A construção do teleférico no Rabaçal continua a dividir as opiniões. Desta vez, é a associação ambientalista 'Quercus' que vem a público dizer que o projecto "viola" o que está "estipulado no Plano de Ordenamento do Território (POTRAM)" porque classifica a zona em questão de "uso interdito".
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Santos Costa desmente
Mas quem tutela a aplicação do Plano tem outra opinião. O secretário regional do Equipamento Social assegura que a implantação do projecto é viável no Rabaçal. Santos Costa clarifica que "não há violação dos instrumentos em vigor de ordenamento do território da Região, nomeadamente o POTRAM.".
Os ambientalistas insistem. Em carta feita chegar ao DIÁRIO pela Associação que na Região é dirigida por Idalina Perestrelo, a implantação do projecto numa zona de grande sensibilidade ambiental impõe reservas. "Na planta de ordenamento do POTRA M, a área de implantação do projecto está incluída na classe de Espaços Naturais e de Protecção Ambiental como Zona Natural de Uso Interdito - Reserva Biogenética. Das zonas definidas nesta classe de espaços, esta é a mais restritiva em termos de uso do território-uso interdito." A comprovar, os ambientalistas citam o artigo 33 do Plano, nomeadamente o ponto um, onde se diz: "São zonas naturais de uso interdito as áreas com muito elevado valor ecológico e muito grande vulnerabilidade à pressão humana ou muito reduzida capacidade de regeneração, onde apenas se permitem actividades de conservação de natureza científica e, ainda, a título excepcional, em áreas previamente seleccionadas, locais de observação no âmbito de usos de lazer e recreio." O que está projectado para o local, em termos de número de passageiros a transportar por hora e estruturas de apoio (restauração) não se enquadram nas condicionantes impostas quer pelo Plano quer pelas restrições dos Sítios da Rede natura 2000 Laurissilva da Madeira e Maciço Montanhoso Central, além de que integra o Parque Natural da Madeira.
Turismo de esplanada
Outra preocupação expressa pela 'Quercus' prende-se com o turismo. Segundo a delegação regional, "a ser construído, o projecto irá catapultar para o interior da Laurissilva um número acrescido de turistas. Além dos habituais apreciadores de caminhadas, em busca de velhos e novos percursos, o universo de visitantes potenciais incluiria os comodistas e os turistas de esplanada." Em questão, está o facto de o turismo de qualidade, que procura o Rabaçal, preferir espaços pouco frequentados, em total comunhão com a natureza. Idalina Perestrelo salienta que "os turistas que procuram uma natureza selvagem e que têm aversão a áreas demasiado exploradas comercialmente teriam tendência a fugir depressa da zona.".
Estudante também discorda
A secretária regional que tutela o Turismo e os Transportes na Região tem uma visão completamente distinta. Conceição Estudante considera que, uma vez acauteladas as regras de acesso e de exploração dos vários percursos naturais da zona, nada há a obstar em relação ao teleférico, que poderá funcionar como "uma mais-valia para o próprio turismo." Mas a 'Quercus' insiste e reitera o princípio "turismo sustentável sim, eco-embuste, não." A carta remetida ao DIÁRIO traduz o alerta: "Não é o facto de um projecto se inserir num espaço natural ou zona protegida e ser 'pintado de verde' com argumentos falaciosos que o torna sustentável. Usar os recursos naturais que são de todos, degradando-os irresponsavelmente em benefício de poucos, não é sustentabilidade. Cuidado com os eco-embustes, porque o teleférico do Rabaçal cai nessa categoria." A Associação concorda com o aumento da oferta de circuitos e zonas de lazer e recreio ao longo da Região, mas também deixa claro que os mesmos deverão estar "fora de áreas ambientalmente sensíveis.".
Debate: Ambientalistas e governo em fileiras opostas
Idalina Perestrelo, dirigente da QUERCUS"
O projecto, visando a exploração turística de uma infra-estrutura de transporte de passageiros com uma capacidade potencial de 180 passageiros/hora, (...) oferecendo serviços complementares de restauração (...) não se enquadra no uso excepcional de lazer e recreio admitido, correspondendo antes a um uso permanente que se sobrepõe ao uso principal de conservação da natureza (...).".
Santos Costa, secretário do Equipamento social
"O teleférico não viola o POTRAM e é viável a sua implantação no espaço natural de uso condicionado. Não percebo quando se diz que terá impactos negativos no património natural quando o que se pretende é justamente o contrário, isto é, disciplinar e regular o acesso do público, como noutras espaços naturais do mundo, também com teleféricos, mas de acesso condicionado.".
Conceição Estudante, secretária do turismo
"Os teleféricos na Região foram considerados uma mais-valia pelo POT-Plano de Ordenamento Turístico. No caso do Rabaçal, impõe-se não confundir o meio de transporte com a utilização que possa ser dada. Neste caso, poderá ser uma mais-valia para o turismo, desde que se acautele a forma de utilização e não perturbe toda a envolvência do ponto de vista de impacto ambiental."
João Correia, director de ambiente"
A data limite para que a comissão de avaliação de impacto ambiental entregue o relatório final é no próximo dia 11. O documento será entregue ao secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais que fará depois uma declaração de impacto ambiental do projecto. Antes disso, não há mais declarações a fazer sobre o assunto."
Paulo Sousa, Presidente da SDPO
"A comissão de avaliação está a analisar o assunto. As pessoas têm o direito de se pronunciarem a favor ou contra o projecto. Pessoalmente, continuo a achar que se trata de uma boa aposta para o desenvolvimento da Região e não vai desvirtuar a Laurissilva. Ma sé uma opinião pessoal, aguardemos pelo relatório final dos técnicos.".
Rosário Martins
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